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O propósito deste ensaio é desenvolver uma leitura comparativa, por aproximação e contraste, de quatro romances de José Saramago. Recorte no amplo universo do romancista português, o trabalho levanta questões que possibilitam um ordenamento das leituras sobre sua obra a partir de um exame detido de um romance de sua fase mais nacional: A jangada de Pedra, em contraposição à trilogia constituída por Ensaio sobre a cegueira, Todos os nomes e A caverna. A obra busca explicitar espelhamentos e refrações entre A Jangada de Pedra e Ensaio sobre a cegueira, bem como as muitas ressonâncias entre Ensaio sobre a cegueira, Todos os nomes e A caverna, e assim delinear um horizonte de convergências estruturais e/ou temáticas perceptível no confronto das obras. Tal estratégia possibilita à autora depreender e apontar a marca narrativa que articula a variedade ficcional de cada romance, os quais agrega sob uma rubrica comum, mostrando que temas, figuras, mitos, símbolos, procedimentos narrativos e outros recursos que deles emergem configuram Saramago como romancista que “sendo a cada vez outro, é sempre o mesmo”.
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"Desde o século XIX, com o célebre detetive Auguste Dupin, de Edgar Allan Poe, e a extensa cadeia de personagens e narrativas de mistério que em maior ou menor medida descenderam dali – passamos, nesse prolífico percurso, por Conan Doyle, Agatha Christie, Raymond Chandler, só para citar alguns autores –, o gênero policial foi se consolidando e, enquanto expandia progressivamente seu público, matizava-se e assumia novas formas. Este estudo, fruto de longa pesquisa a partir dos livros mais vendidos no Brasil no início do século XXI, debruça-se sobre o romance policial “místico-religioso”, subgênero definido por Fernanda Massi que se distancia um pouco das características tradicionais do romance policial: nessas tramas, o crime se conecta a um segredo ligado a um núcleo místico-religioso, em geral protegido por uma sociedade fechada e secreta às voltas com o que ela supõe ser um inimigo ameaçador. O repórter/investigador (que em tais obras nunca é chamado de detetive) busca uma verdade que supera a identificação do criminoso, tendo como alvo principal o segredo motivador dos crimes. Outra característica singular é a tentativa, quase frequente, de desmoralização da Igreja Católica. Isto ocorre através da oposição /ocultação/ vs. /revelação/ de um segredo, fazendo que esse subgênero tenha grande sucesso de público, uma vez que promete revelações surpreendentes sobre essa poderosa instituição."
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Ao longo dos séculos, a ânsia por reestruturar os núcleos sociais tangenciou, muitas vezes, os limites do sonho e do pesadelo. A literatura, ao mesmo tempo testemunha e agente dessas inspirações, figurou espaços utópicos que, de forma ambígua, se revelavam transformadores e normalizadores. Dentre essas produções, destaca-se o romance anitutópico ou distópico 1984, de George Orwell, que desnuda os perigos que cercam o idealismo homogeneizador das utopias políticas. Tendo o universo ficcional do "Big Brother" como objeto de análise, a obra discute a recorrência histórica do utopismo no pensamento humano em geral e na literatura orwelliana em particular. Por meio dessa discussão, busca-se lançar luz sobre os eventos e os processos socioculturais que fomentaram o "medo da utopia" na modernidade tardia.
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O presente livro tem por objeto de estudo o romance O Ateneu, de Raul Pompéia, publicado em 1888 em folhetim pela Gazeta de Notícias e, meses mais tarde, em volume, pela tipografia do mesmo jornal. Estuda-seaquio processo narrativo da obra a partir de uma discussão inicial de sua recepção crítica, em que se observam três tendências interpretativas distintas: uma primeira de viés biográfico, bastante comum até a década de 1940; uma segunda, de viés social, iniciada logo após a anterior, e continuada ainda hoje; e uma última, de viés revisionista, mais atual, pautada na análise de aspectos até então considerados acessórios pela crítica. Dentre estes aspectos, está o tratamento cada vez mais aprofundado da narração autodiegética e do memorialismo latente já no subtítulo do romance – “Crônica de saudades”. Para tanto, discute-se a seguir a natureza teórica da narrativa de memórias, levantando-se diversos textos de teoria da narrativa como embasamento teórico da exposição. Propõe-se, assim, o uso de uma terminologia que busca categorizar em três grandes grupos as narrativas de memórias, de acordo com sua orientação mais voltada para o passado da ação – “narrativa retrospectiva” –, para o presente da narração – “narrativa presentificativa” – ou para o processo de leitura e recepção das memórias – “narrativa prospectiva”. A análise posterior de diversos elementos da narração d’O Ateneu chega à conclusão de que o romance de Pompéia representa um exemplo acabado de “narrativa prospectiva”, em que o narrador manipula a infância vivida no internato para fazer-se de vítima do sistema, e, assim, reverter a lógica de opressão a que fora submetidono Ateneu.
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Este trabalho apresenta uma leitura do romance O coronel e o lobisomem, publicado em 1964, pelo escritor brasileiro José Cândido de Carvalho. Ao problematizar o conceito de regionalismo literário, busca-se averiguar em que medida é possível aproximar essa obra da chamada tendência super-regionalista, a fim de determinar o lugar que ocupa tanto na produção do autor, quanto no conjunto da literatura regionalista brasileira. O estudo da categoria crítica do super-regionalismo convoca a compreensão de outros conceitos, como o de transculturação narrativa, que também serão dimensionados no sentido de contribuir para uma leitura da narrativa regionalista em sua dimensão insólita. A partir disso, propõe-se um delineamento dos procedimentos formais e dos eixos temáticos mobilizados pelo autor na composição de seu romance, de modo a contribuir para a revisão de sua fortuna crítica, bem como ampliar a compreensão dos paradigmas que orientam tal momento, ainda pouco estudado de maneira sistemática, do regionalismo literário brasileiro.
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Rastro, hesitação e memória pretende investigar as relações entre poesia e tempo. Há nos poemas de Anti-Platon e Du Mouvement et de l’immobilité de Douve, tanto quanto nos ensaios de L’Improbable, a condenação de um inteligível abstrato em virtude do esquecimento do tempo. A poesia repercutiria uma tensão entre interioridade conceitual e exterioridade. As palavras do poema evocariam um apagamento: rastro, presença ausente. A perda se tornaria a origem da linguagem poética.
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Na primeira metade do século XX o teatro brasileiro passou por um processo de atualização que contou com a liderança de personalidades que marcaram a cultura nacional. Neste complexo cenário de renovação da cena houve a participação do diretor e ator polonês Zbigniew Marian Ziembinski (1908-1978), fugitivo da Segunda Guerra Mundial ele aportou no Brasil, em 1941. O movimento de atualização estética no teatro estava em curso desde a década de 1920 e os esforços de Ziembinski se somaram ao grupo de atores, atrizes, dramaturgos e críticos que desejavam introduzir nos palcos nacionais novas concepções de encenação.
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Maurício Funcia de Bonis faz aqui uma reflexão sobre a música erudita na atualidade, em que o gênero parece ter silenciado, restando de sonoro somente a “relação com os criadores do passado”. Ele toma como contrapartida a esse cenário a atuação ao mesmo tempo crítica e criativa de dois compositores contemporâneos: o belga Henri Pousseur (1929-2009) e o brasileiro Willy Corrêa de Oliveira (1938). A expressão latina aplicada ao título do livro tabulae scriptae (tábuas escritas), explica o autor, remete à ênfase sobre a metalinguagem como profissão de fé na obra e no pensamento de ambos os artistas, que recusam a tendência à tabula rasa (tábuas vazias), “à eliminação de uma relação consciente com a história, na música de seu tempo”. A obra divide-se em três partes. O primeiro capítulo situa o terrenodo qual partiram as reflexões e os trabalhos daqueles compositores, fundamentando suas bases teóricas. Os capítulos seguintes retratam suas trajetórias artísticas. Compõem o livro ainda uma entrevista feita pelo autor em 2012 com Willy Corrêa, além de relações de obras de Pousseur e Willy, organizadas pelos próprios compositores. Contribuição para pesquisas futuras, esses anexos complementam a exposição do autor ao situarem as transformações ocorridas nos percursos criativos dos artistas ao longo do tempo.
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